terça-feira, 11 de maio de 2010

Viver na presença de Cristo e de Deus

Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ

“Se alguém me ama, guardará a minha palavra e meu Pai o amará, e nós viremos a ele e nele faremos nossa morada.” (João 14,23)

O texto do sexto domingo da Páscoa tem sabor de testamento-herança: o projeto de Deus é confiado àqueles que se comprometem com Jesus.

No Antigo Testamento, quando o povo de Deus, saído do Egito, caminhava rumo à construção de nova sociedade na terra prometida, Deus se comunicava com o povo na Tenda da Reunião, a “morada” de Javé. Agora, cada cristão que assume o projeto de Deus é a morada onde o Pai e o Filho se encontram e se manifestam ao mundo inteiro. Mas isto exclui uma posição intimista, como se bastasse o esforço individual. Jesus destina sua mensagem de despedida à comunidade como um todo. Cada cristão é Tenda da Reunião do Pai e do Filho, mas isso só tem sentido quando o “guardar a palavra” é entendido comunitariamente, como proposta assumida por todos os que, pela fé, aderiram a Jesus.

O pensamento da morte assusta os discípulos e os paralisa. Como Jesus confiaria a essa gente medrosa e inerte o prolongamento da sua prática libertadora? O que os discípulos irão fazer com a Herança do Mestre? Em nome de Jesus, o Pai vai enviar o Conselheiro, o Espírito Santo, gerador de vida nova.

A melhor explicação que temos do Espírito Santo aparece neste texto: “O Espírito Santo que o Pai enviará em meu Nome vos ensinará tudo o que eu vos disse.” Ele ajuda a comunidade a descobrir-nos diversos lugares a presença de Deus.

A realidade fundamental e definitiva é a comunhão. A vida deve ser comunhão para ser entendida e vivida plenamente. Cristo é a chave que possibilita a plena e definitiva comunhão dos homens com Deus e entre si. O plano de Deus é dar paz em Jesus Cristo, isto é, levar as pessoas a viverem a comunhão como condição e redescoberta de sua origem e destino.

Olhando a vida dos santos, percebemos que eles sofreram para estabelecer a solidariedade e o amor por onde eles viveram. É vivendo em comunidade que saberemos estabelecer a paz e a concórdia dentro do nosso mundo e em cada um de nós.

Viveremos na presença de Cristo e de Deus quando, através do Espírito Santo, soubermos desenvolver uma comunidade cristã.

O Deus Uno e Trino, a Santíssima Trindade, é uma comunidade de amor. E cada um de nós será templo e sacrário da Trindade, como Maria, se souber desenvolver na Igreja uma comunidade de amor.

Deus quer que sejamos felizes, Cristo demonstrou como podemos ser e o Espírito Santo foi enviado para abrir nossas mentes, muitas vezes limitadas aos valores do mundo, a fim de que construamos uma comunidade de amor aqui na terra.
Ainda conseguiremos isto, pois Jesus prometeu que, afinal, haverá um só rebanho e um só pastor, mas não poderemos esperar que isto aconteça sem que cada um dê a sua parcela de contribuição.

Usando a imagem do oceano, Madre Teresa afirmou que o seu gesto era uma gota, mas, sem ele, o oceano seria menor.

Se cada um agir conforme Jesus ensinou, formaremos, gota a gota, um oceano de amor, plenitude, presença da Trindade em cada um de nós e no mundo

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